Quando o incentivo pesa demais

Muitos pais acompanham de perto a rotina esportiva dos filhos com amor, cuidado e o desejo legítimo de verem suas conquistas. Mas às vezes, esse apoio vem junto de cobranças que, mesmo sem intenção, acabam minando a motivação da criança ou do adolescente.

Nem sempre é fácil perceber quando o incentivo vira pressão. Comentários sobre desempenho, expectativas de vitória, frustração diante de resultados e comparações com outros atletas são exemplos de atitudes que, mesmo com boa intenção, podem pesar demais para quem ainda está em formação — emocional e esportiva.

Vejo atletas que, mesmo talentosos, começam a duvidar de si quando sentem que seu valor está condicionado ao resultado. O esporte, que deveria ser um espaço de prazer e crescimento, vira palco de medo, obrigação e ansiedade.

Isso se intensifica ainda mais quando os pais ocupam o lugar de "paitrocinadores" — apoiando financeiramente e, ao mesmo tempo, esperando retorno em forma de medalha, título ou validação. A relação se confunde, o vínculo se tensiona, e o filho começa a se perder de si. Muitas vezes, esse desequilíbrio acaba afetando a própria relação entre pai e filho, que passa a ser mediada por desempenho, expectativas e frustrações.

A construção no esporte é feita de etapas, erros, aprendizados e tempo. Ninguém se torna atleta pleno sem antes passar por tropeços — e é justamente aí que o apoio real se mostra: quando a presença é incondicional, mesmo nos dias em que o resultado não vem.

Confiar no processo é confiar no filho. E permitir que o esporte seja também um lugar de descoberta, não só de cobrança.


Por Josiane Cozac
Psicóloga | CRP 138990/06

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A coragem de dizer o que incomoda